Ao iniciar um estudo sobre qualquer tema, faz-se muito importante estudar a cronologia histórica por qual determinado assunto percorreu nos mais diversos contextos humanos.
Com a hipnose não é diferente.
Ao se ter contato com a história por qual passou a hipnose, bem como com os grandes feitos realizados por estudiosos, abrem-se diversas dicas de leituras, interpretações, aprimoramentos e fundamentos.
Por isso, antes de lhe apresentar os fundamentos da hipnose, convido-lhes a percorrer abaixo o nascimento e crescimento desse estudo que, como veremos, tem seu marco científico inicial no ano de 1734, com Franz Anton Mesmer.
Em que pese esse marco científico com o nascimento dos Enciclopedistas, advindos de um ideal Iluminista, a noção de transe é muito antiga.
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Stephen Paul Adler |
Os fenômenos de transe surgiram com o início da humanidade, de modo a emergir com mais habitualidade e eficiência quando do advento da escrita. Tal fenômeno desempenha um papel importante em todas as culturas. Stephen Paul Adler, em sua obra traduzida para o português "Hipnose Ericksoniana - Estratégias para a Comunicação Efetiva", declara o seguinte:
Desde os sacerdotes do antigo Egito, Oráculo de Delfos, Deus colocando Adão em sono profundo enquanto removia sua costela - estados de transe têm sido relatados em vários textos.
Entretanto, a doutrina moderna sobre o assunto é inequívoca em afirmar que, como já dito, a história moderna da hipnose começa com Anton Masmer, um médico francês, em 1734.
Vejamos então os aspectos históricos de autores que consagram o estudo da hipnose, conforme Adler:
FRANZ ANTON MESMER, 1734 - 1817
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FRANZ ANTON MESMER |
Nasceu na Áustria e descendente de franceses, é considerado o pai da hipnose. Inicialmente, ele usou o termo "mesmerismo", que descrevia o processo de induzir transe através de uma série de movimentos elaborados com as mãos, e do uso de ímãs sobre e ao redor das pessoas. Apesar do sucesso no tratamento de muitos clientes, seu trabalho não foi reconhecido por seus colegas profissionais. De fato, um comitê oficial organizado pelo governo francês resumiu a investigação que fez sobre o trabalho dele... a imaginação é tudo, o magnetismo não é nada.
O comitê não estava interessado em explorar o mistério dentro do processo e definiu o mesmerismo como imaginação, ou seja, os seus efeitos se deviam exclusivamente à imaginação. Portanto, "a imaginação é tudo", foi uma resposta útil que permitiu que o comitê evitasse quaisquer investigações ulteriores. Eles não perceberam que essa era a chave para entender o transe hipnótico. No nosso tempo esse seria o trabalho de Milton H. Erickson.
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JAMES BRAID |
JAMES BRAID, 1785 - 1860
Foi responsável pela invenção da palavra "hipnose". Hipnose vem de hypnos, a palavra grega para sono. Ele libertou a hipnose de seus elementos místicos. Reacendeu o uso da hipnose como uma ferramenta efetiva.
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JAMES ESDAILE |
JAMES ESDAILE, 1808 - 1858
Foi o pioneiro no uso extensivo da hipnose em cirurgias, enquanto morava na Índia. Seus relatos mostram uma série de 261 operações com o índice de mortalidade notavelmente baixo de 5,5%.
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PIERRE JANET |
PIERRE JANET, 1849 - 1939
Foi um neurologista e psicólogo francês que, com o tempo, descobriu o transe hipnótico e sua utilidade na promoção da cura (healing) fisiológica e patológica. Janet foi uma das poucas pessoas que apoiaram a hipnose durante a evolução da psicanálise.
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ÉMILE COUÉ |
ÉMILE COUÉ, 1857 - 1926
Foi o psicólogo que desenvolveu as Leis da Sugestão. Ele encorajava seus clientes a dizer de vinte a trinta vezes por dia: "Todos os dias, de todas as maneiras, eu estou ficando cada vez melhor".
1. Lei da Concentração da Atenção
Sempre que a atenção fica concentrada em uma ideia repetidas vezes, ela tende a se realizar espontaneamente.
2. Lei da Ação Reserva
Quanto mais alguém se esforça para fazer algo, menos chance tem de sucesso.
3. Lei do Efeito Dominante
Uma emoção mais forte tende a substituir uma mais fraca.
SIGMUND FREUD, 1856 - 1939
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SIGMUND FREUD |
Estudou com Liébeault, Bernheim e Charcot, era paternalista demais para ser um bom hipnoterapeuta. Ele não respeitava realmente a autonomia de seus clientes, ou sua habilidade de se curar (heal). Freud nunca alcançou a maestria nas habilidades que o possibilitassem colocar seus clientes em nada além de um transe incompleto. Ele sentia que as curvas (cures) eram temporárias e desnudavam os pacientes de suas defesas. Entretanto, com frequência, seus pacientes entravam em transe, na medida em que ele, sem saber, realizava "transe conversacional" enquanto conduzia a psicanálise. A rejeição de Freud à hipnose como uma técnica resultou no fato de a hipnose passar a ser desconsiderada e praticamente ignorada, por completo, pelos seus seguidores e pelo campo emergente da psicologia.
O desenvolvimento posterior da hipnose teve lugar entre psicólogos da França. Liébeault e Bernheim sustentaram ideias sobre hipnotismo que eram paralelas às ideias de Braid na Inglaterra, num período histórico posterior.
Braid: "Às várias teorias consideradas atualmente e que tratam do fenômeno do mesmerismo podem ser organizadas da seguinte maneira:
Primeiro, aqueles que acreditam que elas pertencem inteiramente a um sistema de conluio e ilusão; e a grande maioria da sociedade pode ser colocada nessa categoria;.
Segundo, queles que acreditam ser um fenômeno real, mas produzido unicamente pela imaginação, simpatia e imitação.
Terceiro, o magnetismo animal, ou aqueles que acreditam em algum meio magnético colocado em ação como a causa estimuladora do fenômeno de mesmerismo.
Quarto, aqueles que adotaram meus pontos de vista, ou seja, de que o fenômeno é totalmente passível de ser atribuído a um estado fisiológico peculiar do cérebro e da medula espinhal."
[James Braid - Wikipedia]
ESCOLA DE HIPNOSE DE NANCY, FRANÇA, 1824 - 1904
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Ambroise-Auguste Liébeault
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Liébeault e Bernheim foram líderes reconhecidos da Escola de Hipnotismo de Nancy, a qual colocou o estudo do hipnotismo em uma base sólida, a do conceito de sugestão e cooperação da mente inconsciente.
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Martin Charcot |
Charcot, um médico de Paris, fundou uma escola antagonista que acreditava em magnetismo animal e que a hipnose era uma neurose, um estado nervoso patológico.
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Hippolyte Bernheim
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Bernheim e Liébeault eventualmente replicaram os experimentos de Charcot sem os "abracadabras" magnéticos e acabaram com a controvérsia. Entretanto, o interesse pelo hipnotismo declinou e houve pouco interesse no assunto até a Primeira Guerra Mundial.
PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL, 1914-1942
A partir da primeira, passando pela Segunda Guerra Mundial, o interesse pela hipnose renasceu. A hipnose se mantinha viva por Milton H. Erickson, Leslie Le Cron, William Kroger, Milton Kline, Jacob Conn Bernard Raginsky, Andre Witzenhoffer, Aaron Moss e outros.
Atribuem-se a Milton H. Erickson a renovação e o aumento de interesse e conhecimento em relação aos estados hipnóticos. Foi ele quem identificou primeiro as diferenças entre indução do transe e utilização do transe, assim como entre as potencialidades da mente inconsciente e da consciente, e como ampliar ao máximo o impacto de um transe hipnótico de cura (healing).
Ao último, Milton H. Erickson, devemo-nos atentar para a importância desse homem para o estudo contemporâneo acerca da hipnose. Esse é o nome do cara!
Milton H. Erickson é considerado o líder mundial dos praticantes de hipnose. Seu trabalho e obra escrita são a última palavra em hipnose hoje em dia. Conforme cita Stephen Paul Adler:
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Milton H. Erickson |
Ele era psicólogo, psiquiatra e hipnoterapeuta e membro tanto da Associação Americana de Psiquiatria como da Associação Americana de Psicologia. Ele fundou a Sociedade Americana de Hipnose Clínica.
Erickson nasceu em Aurum, Nevada, numa cidade que não existe mais. Ele foi uma das poucas pessoas que seguiram para o Oeste, em uma carroça coberta, indo morar com sua família em Wisconsin.
O interesse dele por hipnose se iniciou quando ele foi a uma demonstração de Clark Hull 1884-1952), um hipnotizador e psicólogo que ocupava uma posição de liderança na época.
Não foi à toa que Erickson se interessou pelas demonstrações de Clark Hull. Encnontra-se no Wikpedia feitos desse nobre cavalheiro. Hull, conforme o Wiki:
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Clark Hull |
Com frequência se atribui a Hull o início do estudo moderno da hipnose. O trabalho dele, Hipnose e Sugestibilidade (1933), foi um estudo rigoroso do fenômeno, usando estatísticas e análise experimental. Os estudos de Hull demonstraram, enfaticamente, de uma vez por todas, que hipnose não tinha conexão com sono ("a hipnose não é sono,... não tem nenhuma relação em especial com o sono, e todo o conceito de sono, quando aplicado à hipnose, obscurece a situação").
O resultado principal da pesquisa de Hull foi refrear as alegações extravagantes dos hipnotizadores, especialmente aquelas referentes às melhorias extraordinárias na cognição ou dos sentidos sob a hipnose. Os experimentos de Hull realmente mostraram a realidade de alguns fenômenos clássicos, tais como anestesia hipnótica e amnésia pós-hipnótica.
A hipnose também podia induzir aumentos moderados em certas capacidades físicas e alterar o limiar de estimulação sensorial; efeitos de atenuação podiam ser especialmente dramáticos. Hull é famoso por assinar a indução hipnótica em que ele olhava para alguém diretamente nos olhos até que a pessoa fosse induzida."
[Clark Hull - Wikipedia]
Como se vê, Hull é um ícone para os estudiosos da hipnose. Através de muitos experimentos ele desmascarou mitos e comprovou realidades, possibilidade e limitações. Assim, acabou por influenciar um dos maiores hipnoterapeutas da atualidade, Milton H. Erickson.
Conforme ainda cita Stephen Paul Adler:
Após se graduar na universidade, Erickson foi nomeado para vários hospitais psiquiátricos. Foi responsável pelo treinamento de muitos psiquiatras, assim como estudantes de medicina. Ele colocava grande ênfase na observação cuidadosa, a qual ele acreditava aumentar as habilidades de qualquer hipnoterapeuta. Gostava de descrever a terapia como uma maneira de ajudar os pacientes a ampliar seus limites, e ele passou a sua própria vida fazendo simplesmente isso.
Ele acreditava que a psicoterapia consistia em substituir más ideias por boas ideias.
Diante do acima exposto, evidenciou-se que:
- a hipnose nem mesmo era antigamente assim chamada, tinha o nome de "mesmerismo", de Mesmer;
- que somente com Braid, o termo hipnose passa a ter o significado que temos hoje;
- foi James Esdaile foi o pioneiro no uso extensivo da hipnose em cirurgias;
- descobriu-se o transe hipnótico e sua utilidade na promoção da cura (healing), com Pierre Janet;
- o desenvolvimento de Leis da Sugestão surgiu com Émile Coué;
- Sigmund Freud deturpou a ideia de hipnose, isto por rejeitar o uso da técnica ao usá-la sem saber;
- Braid tratou de promover juntamente com Liébeault e Bernheim estudos pós Freud;
- Liébeault e Bernheim firmaram uma base sólida acerca do conceito de sugestão e cooperação;
- Mesmo com a Primeira e a Segunda guerra a hipnose se manteve viva;
- Clark Hul influenciou Milton H. Erickson;
- Milton H. Erickson e sua história.
Assim, feitas essas análises acima acerca de tudo que fora apresentado, resta destacar que a matéria sobre os Fundamentos da Hipnose certamente será tema aqui no BodyLanguageBrazil.com, acompanhe!
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Fonte: Hipnose Ericksoniana - Estratégias para a Comunicação Efetiva
Hipnose Conversacional
sábado, 14 de setembro de 2013
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